Deu-me Deus o seu gládio, por que eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.
E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.
Fernando Pessoa
Este poema é um auto-retrato de D. Fernando. As marcas de discurso de 1ª pessoa são os pronomes pessoais me (vv. 1, 3, 6, 8), eu (vv. 1, 11) e mim (v. 10); determinante possessivo minha (vv. 12, 15); formas verbais na 1ª pessoa do singular: vou (v. 11) e temo (v. 13).
Os versos 1-3 e 6-7, entre outros confirmam que D. Fernando é retratado como instrumento da vontade de Deus.
O gládio simboliza o poder com que Deus investe o herói para que ele possa fazer cumprir o destino de Portugal.
Em consequência da acção divina, o "eu" é consumido por uma "febre de Além" (v.8). Essa febre participa, como o gesto a que conduz, da predestinação divina do herói. É algo que lhe é dado, que faz parte da sua própria condição, como ser depositário de um destino que se cumpre através dele, como acontece com D. Fernando.
Mesmo nos casos onde o grande empreendimento a que se propuseram falhou, os heróis na Mensagem mantêm viva a chama do desejo e do sonho, impulsionados por essa febre dev fazer, de descobrir, de criar, a que se juntam o seu destemor confiante por se sentirem cheios de Deus.
Dir-se-ia, em suma, que nessa "febre de Além", nessa ânsia de Absoluto, reside um dos aspectos mais importantes da exemplaridade do herói na Mensagem
Essa "febre de Além" impele o herói à acção - o que se concretiza na 3ª estrofe.
Os três últimos versos do poema exprimem o destemor e a confiança com que o herói se lança na acção por se encontrar imbuído do espírito de Deus. Não importa se essa acção se concretizará ou não em obra feita, o que interessa é a própria acção.
D. Dinis
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.
Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.
Fernando Pessoa
D. Dinis é caracterizado, no poema, como poeta (v.1) e como lavrador (v. 2).
À volta de D. Dinis é criado um ambiente de mistério, sobretudo na 1ª estrofe: o "silêncio múrmuro" que só ao rei é dado ouvir, "o rumor dos pinhais que (...)/(...) ondulam sem se poder ver", isto é, só acessíveis a sonhadores, porque só o futuro os revelará como "trigo / De Império"; na 2ª estrofe, salienta-se "a fala dos pinhais" que é um "marulho obscuro".
No verso dois está presente a metáfora que remete para os pinheiros mandados plantar por D. Dinis que são já, virtualmente, as naus das Descobertas - o futuro adivinhado. O rei aparece, assim, como aquele que cria condições para as navegações, como uma espécie de intérprete de uma vontade superior. Esta ideia, que põe em evidência o aspecto mítico deste "herói", repete-se nos versos 9-10 - "É o som presente desse mar futuro, / É a voz da terra ansiando pelo mar".
Os versos 6-7 apresentam-nos o "cantar" "jovem e puro" como um regato que corre em direcção a um "oceano por achar"; encerram, também, a ideia de que neste passado se adivinha já o futuro.
Ao longo do poema, encontramos diversas referências a dois ciclos da nossa História - o da terra e o do mar. Os versos que ilustram esta afirmação são: versos 2, 4-5 e 10. Estes versos conciliam os dois ciclos - "plantador de naus", "como um trigo / De Império, ondulam", "É a voz da terra ansiando pelo mar".
No dia 23 de Abril, Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, pudemos assistir a um espectáculo inesquecível no CISE, organizado pela Biblioteca Municipal de Seia. O espectáculo com o original título FM 69.0 mf desenvolvia-se em redor do polémico, para alguns, tema da sexualidade. Os actores Cristina Cavalinhos e João Loy ao longo de uma hora falaram de sexo, "sem medo, sem pudor, sem vergonha, sem tabus...".
Foi um espectáculo muito bom, em que brincando e rindo, se falou de coisas sérias e importantes para a vida...
A Biblioteca é um espaço para livros e afins, mas como não pode esquecer dias importantes para todos nós, ela não esqueceu o Dia da Mãe, proporcionando uma pequena feira de plantas, onde todos puderam adquirir um lindo e perfumado presente, florido ou não, para aquela que desempenha um dos papéis mais importantes na vida de cada um de nós.
Homenageio, aqui, todas as Mães com alguns poemas a elas dedicados.
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.
Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade, Os amantes sem dinheiro
Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traz tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue verdadeiro, encarnado!
Eu ainda não fiz viagens
E a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar.
Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa.
Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa. Como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!
Almada Negreiros
Mãe,
És bela.
És a estrela que me ilumina.
És carinhosa.
Dás-me muito amor.
És muito brincalhona
E muito minha amiga...
Aturaste as minhas birrinhas de bebé.
Os teus olhos parecem estrelas a brilhar.
És querida.
Eu sei,
que, às vezes, faço muitos disparates...
Gostava que me desculpasses.
Obrigado por tudo,
Mãe
Liliana Sofia Trindade - 3º A
Obrigado a todos aqueles que contribuiram para o sucesso desta actividade e feliz Dia da MÃE.
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