Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
'Splendia sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longínqua costa -
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp´rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade.
Fernando Pessoa
O horizonte é símbolo do indefinido, do longe, do mistério, do desconhecido, do mundo a descobrir, do objectivo a atingir.
Através da apóstrofe inicial, "Ó mar anterior a nós", o sujeito poético dirige-se ao mar desconhecido, ainda não descoberto/navegado.
Na 1ª estrofe encontramos uma oposição implícita. A oposição refere o mar anterior aos Descobrimentos portugueses ("medos", "noite", "cerração", "tormentas", "mistério" - substantivos que contêm a ideia de desconhecido, que remetem para a face oculta da realidade) e o mar posterior a esse feito ("coral e praias e arvoredos", "Desvendadas", "Abria", "´Splendia" - palavras que contêm a ideia de descoberta).
A expressão "naus da iniciação" (v. 6) é uma referência às naus portuguesas que, impulsionadas pelos ventos do "sonho", da "esp'rança" e da "vontade", abriram novos caminhos e deram início a um novo tempo.
A segunda estrofe é essencialmente descritiva. Essa descrição é feita por aproximações sucessivas, de um plano mais afastado para planos mais próximos: - [Ao longe] a "Linha severa da longínqua costa" (= o horizonte); [Ao perto] "Quando a nau se aproxima, ergue-se a encosta / Em árvores"; "Mais perto", ouvem-se os "sons" e percebem-se as "cores"; "no desembarcar" vêem-se "aves, flores".
O sujeito poético, na última estrofe, apresenta uma definição poética de sonho: O sonho é ver o invisível, isto é, ver para lá do que os nossos olhos alcançam (ver longe); o sonho é procurar alcançar o que está mais além (é esforçar-se por chegar mais longe); o sonho é alcançar/aceder à Verdade, sendo que esta conquista constitui o prémio de quem por ela se esforça. De salientar, aqui, o uso do presente do indicativo - "é" - que confere, a estes versos, um carácter intemporal e programático.
No verso 1 da terceira estrofe temos o uso da antítese - ver/invisíveis.
Nos vesos 16-17 é reforçada a passagem do abstracto ao concreto. Essa passagem é reforçada pela acumulação, no verso 17, de nomes concretos, precedidos de artigos definidos: "A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte".
Este poema apresenta-nos o sonho como motor da acção dos Descobrimentos. É o sonho que, movido pela esperança e pela vontade, desperta no homem o desejo de conhecer, de procurar a verdade.
O título "Horizonte" evoca um espaço longínquo que se procura alcançar funcionando, assim, como uma espécie de metáfora da procura, como um apelo da distância, do "Longe", à eterna procura dos mundos por descobrir.
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