A acção de “Memorial do Convento” de José Saramago inicia-se com a ida de D. João V ao quarto da rainha, após a promessa de mandar construir um convento em Mafra se, no prazo de um ano, D. Maria Ana lhe desse um filho. Como a inauguração da basílica se realiza a 22 de Outubro de 1730, ano em que el-rei completava 41 anos, e a princesa Bárbara dezassete, podemos concluir que a acção se inicia em 1712.
A partir daqui, a intriga assume uma narração cronológica, quase linear, pesem embora alguns momentos de avanço e de recuo temporais, perspectivados pelo recurso a algumas analepses (págs. 35, 45, 106, 190) e prolepses (págs. 105,106, 107, 297).
Após a ida de el-rei ao quarto da rainha, esta não participará num auto-de-fé porque está de luto e já vai no quinto mês de gravidez (pág. 49). A princesa Maria Bárbara será baptizada em dia de Nossa Senhora do Ó. Através da história de Baltasar e Blimunda, intercalada com a dos reais acontecimentos, sabemos que “meses inteiros se passaram”, “o ano já é outro” (pág. 75). Estamos, portanto, em 1713. Mais tarde, quando Baltasar regressa a Mafra, é dada a indicação de “que estivera quase dois anos em Lisboa sem dar notícias” (pág. 102).
Ao longo do romance, deparamo-nos com grandes elipses temporais, nomeadamente nos períodos em que Baltasar e Blimunda estão em Mafra ou em S. Sebastião da Pedreira e o padre Bartolomeu realiza as suas viagens pelo estrangeiro ou se encontra em Coimbra, a estudar (págs. 115, 119). A bênção da primeira pedra ocorre a 17 de Novembro de 1717 (pág. 134) e “passada uma semana, partiram Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas para Lisboa” (pág. 137).
A passagem do tempo é-nos, também, sugerida através de sumários: “Tornou o padre aos estudos, já bacharel, já licenciado, doutor não tarda”; “Aí está Junho” (pág. 145). A acção avança a um ritmo rápido e vamos encontrar D. Maria Bárbara “tão novinha, ainda não fez nove anos” (pág. 160).
Outras vezes, a ideia da passagem do tempo é-nos transmitida através de determinados indicadores. Por exemplo, quando Domenico Scarlatti visita pela primeira vez a passarola, estamos na Primavera, tempo de andorinhas e de cerejas (pág. 168). Ao apresentarem-se as personagens, sabemos que Baltasar tem 35 anos, Blimunda 28 anos – quando os dois se conheceram tinham, respectivamente, 26 anos e 19 anos –, Scarlatti 35 anos.
“Meses passados” (pág. 175) começam os problemas de Bartolomeu com o Santo Ofício. Temos depois notícias da peste que assolou Lisboa, período em que Blimunda recolheu vontades, caindo depois doente. “Durante uma semana” (pág. 185) Scarlatti tocou para ela, até que as melhoras se fizeram sentir.
É sobretudo através do dia-a-dia de Baltasar e Blimunda que nos apercebemos do passar do tempo (pág. 192).
“São quatro horas da tarde” (pág. 195) quando a passarola levanta finalmente voo. Depois da queda da nave e do desaparecimento de Bartolomeu, gastam “dois dias a chegar a Mafra” (pág. 207). Logo adiante, uma outra indicação temporal nos é facultada: “mais de dois meses que Baltasar e Blimunda chegaram a Mafra e cá vivem” (pág. 222). Sabemos também que “durante muitos meses, Baltasar puxou e empurrou carros de mão” nas obras de Mafra e que ao longo de três anos zelou esporadicamente pela máquina voadora (pág. 266).
A história da família real, também, nos faculta dados importantes: “maior ajuda necessitam as fracas crianças, ela de dezassete anos, ele de catorze” (pág. 278), “Maria Bárbara tem dezassete anos feitos” (pág. 297). Estamos em 1730, ano do casamento da infanta Maria Bárbara com D. Fernando, futuro rei de Espanha, e da inauguração da basílica: “Enfim, chegou o mais glorioso dos dias, a data imorredoira de vinte e dois de Outubro do ano da graça de mil setecentos e trinta” (pág. 350).
A última indicação temporal aparece na história de amor de Baltasar e Blimunda, pois “Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar” (pág. 353). Quando finalmente o encontra, está a ser consumido pelo fogo da Inquisição e a intriga, que se desenrola ao longo de 27 anos conhece o seu fim. Estamos em 1739.
Ao longo do romance, também podemos perceber a passagem do tempo através da existência e do percurso de certas personagens: infanta Maria Bárbara, D. João V e Gabriel, o filho de Inês Antónia e Álvaro Diogo que conhecemos em petiz e que, no final do romance, é mais um dos trabalhadores nas obras do convento (pág. 275).
O desaparecimento de certas personagens é também uma marca temporal: desaparece Marta Maria, João Francisco Mateus…
Fundamentais são, porém, as marcas que o tempo vai deixando em Baltasar e Blimunda, personagens nucleares do romance (págs. 40, 57, 169, 170, 182, 212-213, 267, 326, 332, 353, 357).
Bibliografia:
CUNHA, Manuela Salvador e BASTO, Adriano. Memorial do Convento Uma Proposta de Análise. A Folha Cultural, Lisboa, 2005.
Saramago, José. Memorial do Convento. 33ª ed., col. «O Campo da Palavra», Editorial Caminho, Lisboa, 2002.
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